Como se comunicar melhor com pessoas com autismo?

Pessoas neurotípicas (ou típicas) são aquelas que não possuem diferenças no desenvolvimento neurológico. Podemos chamá-las também de não autistas. Já as pessoas neuroatípicas (ou atípicas) lidam com diferentes alterações relacionadas ao desenvolvimento neurológico. As pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) fazem parte do grupo de pessoas atípicas.

Há estudos que indicam que grupos compostos apenas por autistas conseguem facilmente se comunicar bem entre si, assim como grupos compostos exclusivamente por não autistas. No entanto, quando se trata de estabelecer comunicação de um grupo de autistas com outro, de não autistas, uma série de ruídos e dificuldades vêm à tona.

Quando perguntamos a pessoas não autistas se já tiveram algum contato com uma pessoa com autismo e de que forma reagiram a este contato, recebemos com frequência as seguintes respostas:

– Achei melhor ficar calado, pois não sabia como agir; 

– Achei melhor não me aproximar, pois sei que pessoas com autismo não gostam de contato.

Como, então, orientar as pessoas típicas a criarem interações positivas com pessoas com TEA? Vamos lá. 

Primeiro, vamos analisar a nomenclatura. O termo médico atualizado que define autismo é TEA, Transtorno do Espectro Autista

Por que espectro? Porque estamos falando de um transtorno que se manifesta em diferentes níveis. Há pessoas com TEA que não falam, outras que têm um vocabulário acima da média, porém com outras dificuldades, como entender metáforas e sutilezas da comunicação. Há pessoas que são muito sensíveis ao toque e outras, ao contrário, que buscam mais estímulos do ambiente, por serem hipossensíveis (terem uma resposta sensorial diminuida). 

Não podemos, portanto, generalizar a condição de uma pessoa com TEA. Sendo assim, ter, se possível, uma prévia de como ela se comunica, de quais suas características mais relevantes, do que ela gosta ou não gosta, facilitará bastante o contato.

Caso não tenha informações prévias sobre a pessoa com TEA, seguem algumas dicas para estabelecer uma interação positiva: 

– Cumprimente naturalmente, apenas evite o contato físico, pois não sabemos se essa pessoa com TEA é hipersensível (sensibilidade aumentada) ao toque. Não espere uma retribuição, isso não quer dizer que ela não tenha gostado e sim, uma dificuldade na compreensão de regras sociais. 

– Não se prolongue muito na fala, seja o mais claro e direto possível, isso facilita para que a pessoa com TEA tenha mais atenção e compreenda melhor. Em vez de dizer: “Hoje está calor, vamos tomar um sorvete de chocolate numa sorveteria aqui perto? Você gosta de qual sabor?, fale: ‘Vamos tomar sorvete’. A forma mais sucinta não quer dizer robotizada, apenas mais clara.

– Evite perguntas. Nem sempre as perguntas serão respondidas. Seja direto: ‘Vamos à sorveteria; Vamos brincar”. Aí a pessoa mostrará sua satisfação ou insatisfação. – Você também pode fracionar as informações pausadamente, como: “Vamos tomar sorvete. Sorvete de chocolate. Na sorveteria X.” 

– Algumas pessoas com TEA são aprendizes visuais, se puder associar a fala à imagem, com certeza você terá mais sucesso. Um recurso fácil é o celular, quando falar: “Vamos à sorveteria”, mostre a foto da sorveteria. 

– A previsibilidade dos acontecimentos também é um fator importante, antes de iniciar alguma ação, explique claramente. Não o leve à sorveteria sem avisar. Se puder dar essa previsibilidade com uma certa antecedência, melhor. 

– Evite assuntos com temas abstratos, duplo-sentido, metáforas e piadas, já que necessita de uma compreensão muito refinada da linguagem e uma das características do transtorno é o déficit na área da comunicação. 

– Dar um tempo para a pessoa processar o que você falou. Muitas vezes ficamos ansiosos por um contato ou uma resposta e acabamos nos precipitando e falando mais e mais. Dessa forma, sem querer, acabamos deixando tudo mais confuso. 

– Fique atento às respostas corporais. Nem sempre a pessoa responderá com a fala, mas normalmente mostrará sua satisfação ou insatisfação com sinais sociais, como ir junto ou se recusar. 

– Às vezes é necessário estar na altura da pessoa para que ela possa prestar mais atenção em você, porém cuidado para não ser invasivo, se  não o resultado será o contrário. Muitas vezes não haverá contato visual, porém isso não quer dizer que não está atento à interação.

– Normalmente as pessoas com autismo têm alterações sensoriais, um ambiente muito barulhento, com muita luz, com muitos estímulos, pode ser um fator não favorável. 

– Se a pessoa com TEA está engajada em alguma atividade de interesse, aguarde, ou faça parte se ela permitir. Interromper fará com que você diminua as possibilidades de aproximação e pode gerar estresse, irritabilidade. 

– Nem sempre falar ou mostrar faz com que a pessoa com TEA se envolva na proposta, muitas vezes guiá-la com consentimento, fará com que compreenda melhor e se envolva. Se a ideia é brincar de bola, faça com ela, ajude mostrando como seria. 

– Existe uma dificuldade para reconhecer, expressar e gerir emoções, dessa forma, as reações nem sempre são as esperadas para a situação, como um choro ou risada fora do contexto. Não leve para o pessoal, achando que você tenha errado na conduta. 

– Não subestime. Cuidado, não é porque muitas vezes a pessoa com TEA não se expressa com a fala, que ela não está compreendendo.

 – Se não conseguir um contato, uma resposta, uma interação, não significa que essa pessoa com TEA não gostou de você, e sim que naquele momento não teve recursos para essa troca esperada. 

– As brincadeiras sensoriais normalmente são bem-vindas como girar, cavalinho, pega-pega, brincadeira com água, bolinha de sabão.

– Se estivermos falando de um adulto, trate-o como tal, sem infantilizar, mas lembre-se, algumas sugestões valem para qualquer idade, como ser claro e direto com a fala, entre outras. 

– Não esqueça que antes de tudo estamos falando de uma pessoa que tem o seu jeito, sua história e não só do autismo, leve isso muito em conta. Importante dizer que essas sugestões são para os primeiros contatos, porém para a construção de um vínculo, é importante conhecer as características dessa pessoa, já que todos possuem as suas especificidades. O mais importante, não desista, esses momentos são ricos para ambos os lados. Espero que essas informações tenham te instigado a saber mais sobre o autismo e desmitificar esse transtorno. Dessa forma propiciamos mais possibilidades de convívio social e de inclusão. Quanto menos informação, menos possibilidades em todos os âmbitos, mais distanciamento e exclusão. 

Dicas de Brincadeiras e interações

Quando uma família recebe uma criança com alguma função de seu organismo comprometida, ela não deve se voltar exclusivamente para o que a criança não consegue fazer, mas olhar para o que ela pode fazer. Por exemplo, a criança pode não conseguir falar, mas pode se comunicar por gestos. Nesse caso, o importante é atender à necessidade de comunicação da criança.

No e-Brinquedos e Brincadeiras e e-Espiritualidade na Infância tem muitas dicas e orientações de brincadeiras e interações com as crianças que com certeza irão contribuir com o desenvolvimento delas.

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