O maior objetivo do Autismo e Realidade atualmente é divulgar informações de forma ampla e da maneira mais clara possível sobre a rotina dos autistas e sobre as características do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Um dos objetivos é contribuir para ampliar a inclusão social das pessoas com autismo. Um dos modos de alavancar este processo de inclusão social é diminuir o estigma em torno das pessoas com autismo. Muitas pesquisas científicas recentes mostram que os níveis de estigma a respeito de um determinado indivíduo com autismo diminuem quando as pessoas acumulam mais conhecimento sobre o TEA. Ou seja, à medida que a informação passa a ser mais difundida, a tendência é que os autistas sofram menos processos de exclusão.
A noção de estigma surgiu na Grécia Antiga, quando aqueles que eram considerados imorais tinham seus corpos marcados com cortes ou queimaduras, que deixavam cicatrizes até o final da vida. Quem exibia esses sinais deveria ser evitado em lugares públicos. Era o que acontecia com criminosos, traidores ou escravizados.
Atualmente, não há aplicação de marcas físicas. No entanto, o que existe hoje são diversas maneiras de relacionar uma determinada característica de uma pessoa a um estereótipo negativo, dificultando a aceitação social plena do indivíduo com esta característica. Em geral, os estigmas surgem a partir de características consideradas como defeitos, de acordo com critérios que se consolidam ao longo do desenvolvimento de cada sociedade. Por conta disso, as pessoas que cercam esse indivíduo passam a desvalorizá-lo e rebaixá-lo, transformando esta característica em um motivo de vergonha. É assim, portanto, que se estabelece um estigma nos tempos atuais.
Estudiosos apontam quatro tipos de estigma: estigma público, auto estigma, estigma por associação e estigma estrutural. O estigma público é a percepção de um grupo ou sociedade de que um indivíduo está socialmente fora dos padrões e estereótipos determinados, devido a suas características físicas ou comportamentais. O auto estigma é a internalização do estigma público pela pessoa estigmatizada, com negativo impacto social e psicológico. O estigma por associação é o estigma direcionado a um sujeito que está ligado a um indivíduo estigmatizado. Por fim, o estigma estrutural está relacionado à perpetuação de um estado estigmatizado pelas instituições. Entretanto, é necessário ressaltar que o estigma público é considerado a base dos outros três.
Pensando assim, é possível afirmar que o estigma é um conjunto de atitudes preconceituosas, de estereotipização e de comportamentos discriminatórios por um grupo consideravelmente grande da sociedade sobre uma minoria.
No caso das pessoas com autismo, não há o que cientificamente é chamado de fenótipo característico, ou seja, não há características específicas associadas a elas. O autismo é um espectro e cada autista apresenta seu próprio conjunto único de características. Porém, como o TEA é considerado uma deficiência, indivíduos com esse transtorno são percebidos e tratados pela sociedade da mesma forma que pessoas com outras deficiências, no que diz respeito a formas de exclusão social. Há, por exemplo, relatos de indivíduos que têm pena dessa população ou que não gostariam de ser vizinhos de pessoas com deficiência e existe até mesmo quem acredite que elas devessem viver em um lugar isolado, onde só moram pessoas com deficiência.
O que diferencia o estigma de pessoas com TEA de pessoas com outras deficiências é exatamente a ausência de um fenótipo. Como não é possível identificar o transtorno instantaneamente, pelo olhar, quando uma pessoa com TEA frequenta escolas ou clubes, por exemplo, gera estranhamento ao se comportar de maneira diferente da considerada normal pela sociedade e, por não corresponder ao que é esperado, acaba tachada como esquisita e excluída do convívio.
O oposto da discriminação seria a inclusão social. Essa inclusão social pode ser realizada por meio do relacionamento de pares e da participação na vida em sociedade. Assim, é preciso que a sociedade conviva e conheça as características do transtorno.
Há diversas pesquisas que comprovam esse ponto de vista. Comparados com a população em geral, estudantes com experiência profissional com pessoas com esse transtorno exibem atitudes mais favoráveis à inclusão social do que estudantes que não convivem com pessoas com autismo. Pais de crianças com autismo descrevem que a falta de conhecimento da comunidade sobre o transtorno leva a sentimentos de estigmatização. Ademais, pessoas que tiveram contato com produções da mídia que mostram a vida de uma pessoa com autismo tiveram seu nível de estigmatização para com o TEA diminuído. É o caso de séries como The Good Doctor, em que o protagonista é o médico autista Shawn Murphy, vivido pelo ator neurotípico Freddie Highmore. Estudos mostraram que, ao serem expostas a 28 minutos de exibição da série, as pessoas tendem a se interessar mais em saber sobre o transtorno do que aquelas que assistem a uma palestra sobre o tema. O seriado ajuda a gerar empatia e compreensão sobre as características do transtorno. Mostra-se, também, que o estigma está associado a necessidades não atendidas no tratamento de TEA. Dessa forma, a falta de conhecimento e a presença de estigma também podem impossibilitar que sejam oferecidos serviços apropriados. O aumento da compreensão pública do autismo, portanto, pode levar a um melhor acesso aos serviços de diagnóstico e tratamento e à participação social de indivíduos com autismo.
Assim, a difusão da informação sobre o TEA é essencial para diminuir o estigma em relação às pessoas com autismo. Deixamos aqui nosso agradecimento a todas as instituições que, assim como nós do Autismo e Realidade, colaboram para a disseminação do conhecimento sobre o assunto, pois a conscientização, além de contribuir para facilitar o acesso ao tratamento, colabora para minimizar a estigmatização e a discriminação que as pessoas com autismo sofrem.
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