Musicoterapia para pessoas com TEA

A música já era utilizada como uma possibilidade terapêutica desde a Antiguidade. No entanto, sua aplicação como profissão, com um corpo de estudo estruturado, se consolidou há pouco tempo – no Brasil, começou em 1970. A prática possui em suas fundamentações teóricas um caráter multidisciplinar, com estudos que vão além do campo musical e abrangem psicologia, educação, filosofia e, inclusive, disciplinas biológicas. 

É importante destacar que a música não é, por si só, uma terapia. Ela é uma ferramenta que, ao ser aplicada sistematicamente por um profissional qualificado, pode possibilitar o alcance de objetivos terapêuticos. Tais objetivos são, portanto, a grande diferença entre a musicoterapia e a musicalização. 

Enquanto a musicalização tem como finalidade desenvolver o conhecimento musical, na musicoterapia, a função educativa se amplia para dar lugar a outros propósitos. 

De qualquer maneira, é inegável o potencial de influência da música, que atua constantemente sobre nós ao acelerar ou diminuir os ritmos cardíacos, estimulando ou relaxando os nervos, interferindo até no ritmo respiratório. 

Trata-se de uma linguagem universal, capaz de transpor barreiras culturais e linguísticas. Por isso, é uma das formas adotadas pelo ser humano para se comunicar e se expressar, até mesmo por pessoas que não falam ou falam muito pouco.

No trabalho de musicoterapia, a música recebe um conceito diferente ao comumente encontrado nos livros e estudos, pois a estética musical fica em segundo plano. Seus elementos – ritmo, timbre, melodia e harmonia-, sons e movimentos são aplicados como forma de intervenção terapêutica de maneira individual ou em grupo. 

A prática pode ser conduzida de duas maneiras diferentes. Em sua forma ativa, a pessoa atendida interage tocando, dançando, compondo ou cantando. Na aplicação passiva, busca-se uma escuta musical adequada, na intenção de oferecer alívio para dores, relaxamento ou diminuição da ansiedade, por exemplo. 

Os atendimentos de musicoterapia não exigem uma noção musical prévia. Independente da bagagem de conhecimentos formais, todos possuem uma musicalidade, pois ela é uma capacidade inata e constitutiva da humanidade. Essa musicalidade natural permite ao profissional da área trabalhar dentro do processo terapêutico. 

As vivências terapêuticas com a música se mostram muito efetivas no auxílio ao tratamento dos transtornos de linguagem em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), visto que uma das práticas – o canto – incentiva as funções de emissão oral, expandindo as habilidades comunicativas. 

Estudos mostram que o uso da música auxilia no desenvolvimento da aprendizagem de crianças autistas. Ao se investigar de que forma ela pode ajudar nesse processo, foi possível observar que ocorre a expansão da comunicação e das relações sociais. Professores de crianças com autismo relatam que a música contribui para um acréscimo de competências e desenvolvimento de habilidades. Além disso, apontam que a música também favorece o desenvolvimento intelectual e emocional da criança com TEA. 

Nos atendimentos de musicoterapia, os indivíduos com TEA se deparam com estímulos diversos. O estímulo à comunicação auxilia o processo de desenvolvimento da vocalização e fala. Os estímulos sensoriais abrangem o processamento auditivo, reconhecimento e discriminação de sons. Os estímulos motores vêm da manipulação dos instrumentos musicais e da movimentação do corpo. A estimulação cognitiva fornece propostas de experiências musicais que incentivam atenção, concentração e memória. A estimulação social ocorre por meio da promoção de atividades em grupo. 

Por vezes, as famílias se preocupam com o novo ambiente ou profissional que irá trabalhar com a criança ou jovem com TEA, pois pode existir recusa ou negação. No entanto, o instrumento musical pode atuar como uma ferramenta de intermediação, viabilizando o contato inicial, além de oferecer uma prática tangível e estruturada. 

Quando a pessoa com TEA já possui uma predileção pela música, é possível desempenhar um papel de reforço quando há necessidade de organizar gestos e movimentos, induzir o contato visual ou incentivar alguma mudança de comportamento. 

Além da música, outro recurso utilizado como apoio no atendimento em musicoterapia, são as pistas visuais – imagens físicas ou digitais que podem ser usadas para sinalizar o ambiente (indicando onde estão guardados os instrumentos musicais), para organizar um mural de sequência das atividades que serão realizadas, ou até mesmo para a pessoa com TEA comunicar algo quando quiser. A presença das pistas possibilita um ambiente mais estruturado e incentiva maior autonomia nas interações.

É necessário enfatizar que se deve levar em consideração as peculiaridades de cada pessoa nos atendimentos musicoterapêuticos. Ou seja, não se deve concluir que para todos a musicoterapia terá o mesmo resultado, ou levará aos resultados esperados em um tempo pré-determinado. Cada um responderá de acordo com a sua singularidade.

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