Em dezembro de 2019, a Academia Americana de Pediatria publicou um novo relatório clínico sobre autismo, um extenso documento com uma lista de referências, resumindo 12 anos de intensa pesquisa e atividade clínica. Durante este período, as categorias de diagnóstico mudaram – a Síndrome de Asperger e o distúrbio generalizado do desenvolvimento, antes considerados distúrbios separados, agora fazem parte do transtorno do espectro do autismo.
As características definidoras do TEA são duas:
- problemas persistentes com a comunicação social, incluindo problemas com conversação, comunicação não verbal e interação social;
- e padrões restritos e repetitivos de comportamento, como as estereotipias, rotinas rígidas, interesses fixos e diferenças sensoriais.
Uma das principais mensagens do relatório é a ênfase na identificação e encaminhamento precoces para o tratamento. Os resultados são melhores quando o tratamento começa o mais cedo possível e, por isso, a Associação tem incentivado o início das terapias mesmo que o diagnóstico ainda não esteja 100% confirmado. Atualmente, a idade média do diagnóstico é de cerca de 4 anos, mas o objetivo é diminuir para menos de 2 anos. E as crianças que correm maior risco – por exemplo, aquelas cujos irmãos têm TEA – devem ser acompanhadas de forma especialmente detalhada.
Como as esperas podem ser longas nas clínicas especializadas, os autores do relatório esperam ver mais pediatras em geral e cuidadores trabalhando com famílias, mesmo enquanto aguardam uma avaliação completa.
Dessa forma, as crianças pequenas podem ter acesso a terapias ou a programas especiais da pré-escola, para que o tratamento comece o quanto antes. E a confirmação do diagnóstico, por sua vez, é muito importante porque permite às famílias ter acesso aos benefícios sociais e a tratamentos mais eficazes – mais intensivos e, às vezes, mais caros. O que queremos dizer com tratamento? Intervenções comportamentais são muito, muito importantes. A intervenção mais popular e intensiva é a Análise Comportamental Aplicada (também chamado de método ABA), um programa que aborda comportamentos específicos, identificando gatilhos e antecedentes e respondendo com recompensas quando a criança se comporta da maneira desejada.
Existem ainda outras terapias comportamentais relevantes, como o método TEACCH e o Early Start Denver Model, entre outros. Mas antes de definir a terapia a ser aplicada, é importante que a equipe multidisciplinar realize uma análise comportamental funcional para descobrir o máximo possível sobre a criança em particular. Cada autista tem as suas limitações, qualidades e desafios e está mais que comprovado que os melhores tratamentos são aqueles que se adaptam às particularidades de cada paciente.
Ao definir o tratamento, uma das questões a serem analisadas são as comorbidades. Este termo se refere às condições médicas, comportamentais e psiquiátricas que as crianças com autismo têm mais probabilidade de ter do que a população em geral e, que em alguns casos, podem ser mais incapacitantes que o próprio autismo. As crianças com autismo por exemplo podem apresentar transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, deficiência intelectual, problemas de sono, convulsões, ansiedade e seletividade alimentar severa, entre outras. Há atualmente também uma maior conscientização sobre questões de segurança especialmente em torno de perambulação e riscos de fuga em crianças com TEA.
A primeira linha de tratamento para problemas comportamentais deve ser terapias comportamentais. Mas quando esses não são suficientes, os medicamentos entram em ação. Antes de medicar um sintoma comportamental, é novamente importante entender o comportamento da maneira mais completa possível. Uma criança pode ficar irritada por causa do refluxo gastroesofágico ou por causa de um programa educacional inadequado. Não existe medicação que consiga corrigir os principais sintomas do autismo. Mas a medicação pode ajudar a resolver alguns dos problemas simultâneos, como TDAH, irritabilidade, ansiedade ou depressão.
E, depois de resolvido o tratamento, com o tempo a família vai ter que considerar a questão do avanço da infância para a idade adulta. Esta passagem abre portas para uma gama muito ampla de níveis de necessidades de apoio. Algumas crianças, especialmente aquelas que começam o tratamento muito cedo, apresentam um desenvolvimento muito satisfatório, atingindo um nível de independência similar ao de pessoas típicas. No entanto, é importante que todas as famílias com TEA se preparem e conversem bastante sobre as fases de transição do ensino fundamental ao ensino médio, do ensino médio à idade adulta. Isso significa que as conversas com a família – e com o crescente adolescente e adulto jovem – devem começar cedo a abordar a transição para serviços adultos relacionados à saúde, saúde mental, habilidades sociais e emprego.
Como podemos ver ainda existe muita coisa para se saber sobre TEA, mas conforme o tempo vai passando e vai se fazendo mais diagnósticos, precisamos nos preparar para a detecção precoce, para centros de diagnóstico e tratamento, além de preparar estas crianças para se tornarem adultos incluídos na sociedade. Nossa Fundação atua nisso fazendo uma pesquisa de detecção precoce em TEA, com avaliação prevista de 2.000 crianças em creches da Zona Sul de São Paulo, e temos um projeto de instalação de um centro de tratamento e avaliação, tudo isso feito em parceria com o Ministério da Saúde através da lei de incentivo PRONAS.
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