Atualmente, a cada quatro homens, apenas uma mulher é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), de acordo com o relatório do CDC de 2020. Entre as diversas razões para a discrepância dos números estão as diferentes comorbidades que se apresentam de acordo com o sexo da pessoa com autismo.
Problemas emocionais comuns em garotas autistas podem levar ao desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão. O transtorno depressivo recorrente é o distúrbio mais comumente diagnosticado entre as meninas. Há autores, no entanto, que sugerem que os sintomas dos transtornos afetivos bipolares são igualmente frequentes ou até mais comuns.
Os transtornos de ansiedade – que incluem transtorno de ansiedade social, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, agorafobia e transtorno obsessivo-compulsivo- seriam igualmente comuns entre crianças e jovens com autismo.
A descoberta dessas comorbidades, no entanto, pode provocar a exclusão do diagnóstico de TEA, mesmo que o transtorno já tenha sido previamente atestado. O problema é comum. Em 2019, notou-se que a alteração de diagnóstico afeta um em cada dez pacientes diagnosticados com autismo antes dos 8 anos, independentemente do sexo.
Em 2015, foram coletados dados de 19 mil pessoas que se tornaram pais de gêmeos entre 1992 e 2001. Menos de 5% dos casos de autismo encontrados não apresentavam distúrbio coexistente. Em 2017, a mesma iniciativa descobriu que uma porcentagem significativa de crianças com TEA também tinha Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou transtorno de ansiedade.
A literatura também confirma a coexistência frequente de Transtorno Bipolar e TEA. Recentemente, apontou-se que pode haver até aproximadamente 30% das crianças com TEA tem TEA e Transtorno Bipolar associados. Ademais, os mesmos estudos apontam coexistência de Transtorno Bipolar e transtornos de ansiedade ou de TDAH em aproximadamente metade dos casos. Há a sugestão da existência de fatores genéticos comuns para todos estes distúrbios.
Em 2016 foi apontado que cerca de 8% das crianças diagnosticadas com Transtorno Bipolar (TB) também possuiam Transtorno do Espectro Autista (TEA). Estas pessoas possuem uma maior propensão a também apresentarem TDAH e de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).
Em crianças com autismo, os sintomas de Transtorno Bipolar se manifestam de forma precoce e bastante variada. O quadro com os dois transtornos associados pode incluir atenção dispersa, pensamentos acelerados, humor deprimido ou retraimento social. Além disso, entre os autistas com TB também é observada uma resposta mais baixa a estímulos para melhora do humor do que em crianças diagnosticadas exclusivamente com TB.
Apesar do crescente interesse sobre autismo, especialmente por meninas e mulheres com TEA, as pesquisas a respeito da coexistência de autismo e TB, ainda mais considerando esse público, são muito limitadas. A maioria dos estudos abrange grupos mistos, sem análise específica por sexo.
Entretanto, há estudos que abrem espaço para exceções. Foram analisados 7.077 meninos e 1.487 meninas para avaliar a frequência de diferentes distúrbios psiquiátricos em autistas. Entre as meninas, foi constatada propensão apenas para TDAH, mas não para TB.
A relação entre TDAH e autismo é significativa do ponto de vista da medicina e da ciência. Estima-se que cerca de 52% a 68% das crianças com TEA também tenham que lidar com TDAH.
Um dos estudos mais interessantes sobre a relação entre os dois transtornos foi realizado em 2007. Houve a participação de 182 crianças autistas, 41 meninas e 141 meninos, com idade média de 10 anos
Para avaliar as características do TDAH, os pais responderam um questionário que permitia avaliar o comportamento das crianças. Os pesquisadores observaram que as meninas autistas com TDAH tinham mais sintomas de hiperatividade psicomotora com déficit de atenção. Os meninos, por sua vez, apresentaram um maior grau de ansiedade e de características depressivas.
Os resultados podem sugerir duas coisas. Uma delas é que as meninas lidam com dificuldades muito maiores para planejar e executar funções motoras e de foco. A outra é que os resultados podem ter sido influenciados pelo olhar dos pais, que esperam um comportamento mais socialmente aceitável das filhas que dos filhos.
O interesse no estudo das relações entre autismo e TDAH ganhou força a partir do ano de 2013. A explicação está na estrutura do DSM, o manual que serve como guia para médicos de todo o mundo definirem conceitos de saúde mental
Antes de 2013, o DSM excluía a possibilidade de diagnosticar simultaneamente autismo e TDAH. Porém, naquele ano, a 5ª edição do DSM trouxe mudanças que impulsionaram estudos abrangentes sobre a relação entre os dois distúrbios.
Em 2015, foi feita uma análise do histórico de 1.451 crianças autistas para investigar a relação entre TDAH e autismo focada em gênero. O resultado foi que os garotos são os que mais apresentam os dois transtornos associados.
Cerca de 52% dos participantes foram diagnosticados apenas com autismo. Os outros 48% tinham diagnóstico de TDAH, sendo 21% antes do diagnóstico de autismo e 27% de forma simultânea ao de autismo.
Entre o grupo diagnosticado com TDAH antes do autismo, apenas 12% eram meninas. Entre os que receberam diagnóstico simultâneo, as garotas representavam 11%. Considerando apenas as meninas, 42% delas foram diagnosticadas com TDAH e autismo. Entre os meninos, a taxa é um pouco mais alta, de 50%.
Em outro momento, avaliou-se 83 crianças autistas – 13 meninas e 70 meninos – e mostrou-se que 53% do grupo tinha TDAH. Na análise por sexos, a taxa entre as meninas foi de 46% e entre os meninos, 54%.
No entanto, vale ressaltar a notória desproporção em relação ao sexo dos participantes, dificultando análises posteriores do estudo. Trata-se de um exemplo que reforça a importância da realização de outras pesquisas sobre o tema.
Os estudos disponíveis focados na associação entre TDAH e autismo são escassos e estão representados principalmente na forma de questionário e estudos sobre o histórico dos pacientes.
Com base na análise da literatura disponível, pode-se concluir que a frequência de TDAH e autismo de forma associada é menor nas meninas do que nos meninos. Entretanto, por conta da hipótese de que o autismo seja subdiagnosticado entre pessoas do sexo feminino, não há como saber com precisão se essa conclusão é correta.
Estudos mais detalhados sobre transtornos mentais relacionados ao autismo ganham ainda mais relevância ao se considerar o impacto que a ideação suicida pode ter
A prevalência de pensamentos suicidas entre indivíduos com TEA varia de 11% a 66% e os números de tentativas de suicídio representam de 1% a 35%. Pessoas com TEA têm sete vezes mais chances de cometer suicídio do que a população em geral. Não há análise por sexo para estes dados.
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