Exemplo de enfrentamento ao trabalho infantil

Ver, julgar e agir: líder de Taperoá dá exemplo de enfrentamento ao trabalho infantil

Quais as dificuldades que levam uma família a permitir que seus filhos trabalhem? Desconhecimento dos perigos das ruas, das leis, necessidade financeira ou apenas não percebem como isso pode afetar o desenvolvimento das crianças?

Até a chegada do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), na década de 1990, eram comuns fotografias de crianças em carvoarias ou trabalhando nas plantações como adultos, ou ainda, deixando de frequentar a escola para atuar como domésticas. Casos como estes têm diminuído consideravelmente nos últimos anos, mas ainda é possível encontrar trabalho infantil, e isso acontece também nas comunidades.

Conversa e acompanhamento para mudar a realidade

Há cerca de cinco anos, Ivonete Souza Nóbrega, líder no município de Taperoá, Paraíba (PB), se deparou com um caso desse. Foi ao visitar as famílias da região que ela encontrou dois irmãos, com cerca de sete e nove anos, vendendo alguns itens, como bolo e cocadas produzidas pela família. Aproximou-se, conversou com as crianças para saber de onde vinha a produção, qual horário eles estudavam e onde moravam.

Com as informações, foi até a casa da família para conhecer a realidade e orientar os pais. “Eles falaram que eram pobres e precisavam, mas explicamos o risco que as crianças corriam ao sair de casa sozinhas, sem o acompanhamento de um adulto”. Outro problema, nesse caso, é que as crianças estavam faltando aula para ficarem nas ruas vendendo. “O que vai ser do futuro de uma criança se ela não estudar?”, questiona a líder. Como as crianças já haviam passado da idade do acompanhamento da  Pastoral, a líder cadastrou os irmãos mais novos, e assim, também podia continuar observando a família com relação aos mais velhos.

A conversa inicialmente não surtiu efeito: pouco tempo depois, ambos estavam na rua novamente realizando as vendas. Diante do fato, o passo seguinte foi chamar o Conselho Tutelar. “Eles visitaram a família e explicaram que aquilo não era correto”, lembra. Mais próxima da família, ela passou a acompanhar de perto a situação e as atitudes dos pais em relação aos irmãos “vendedores”.

Visitas e orientações foram constantes nessa época. “Hoje os pais têm um ponto onde vendem seus produtos, e as crianças estão todas estudando”, conta a voluntária.

“Criar responsabilidade não é trabalho”

Consciente de seu papel de líder na comunidade, Ivonete deixa bem claro que ser contra o trabalho infantil não significa eliminar os ensinamentos dentro de casa, muito menos destituir as obrigações dos pais. Ela afirma que tem até idade para isso: 10 anos. “Às vezes, chego nas casas e o menino de 10 anos está lá, assistindo televisão e a mãe fazendo tudo sozinha”, diz.

Para ela, é importante que os pais respeitem os direitos, mas que ensinem aos filhos que eles vêm acompanhados de deveres. “A criança tem o direito de estudar, mas tem o dever de fazer a tarefa, de estudar para a prova, de respeitar os amigos”, aponta.

A orientação dada pela líder, é que as crianças podem, sim, ajudar os pais na manutenção da casa, “forrando uma cama, guardando as roupas dela”, sem exploração.

O exemplo vem da própria experiência. Mãe de seis filhos, ela conta que foi dessa maneira que começou a ensiná-los a criarem responsabilidades na casa. “Eles organizavam as coisas deles de acordo com a idade, sempre depois de brincar e estudar”. O resultado da ação da líder dentro de casa? Todos os seis filhos estão casados, cuidando de suas casas, “e encaminhados”, diz. Que todos os líderes possam ter a mesma perspectiva para suas famílias, e também para as famílias acompanhadas.

“Quando você ensina as mães e famílias a cuidarem melhor dos filhos, você está construindo um mundo melhor, mais justo e fraterno para essas crianças”.

Dra. Zilda

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