Em 1982, em uma reunião sobre a paz mundial, da Organização das Nações Unidas (ONU), o então diretor executivo do Unicef, Sr. James Grant, convenceu Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo de São Paulo, de que a igreja poderia ajudar a salvar milhares de vidas se ensinasse as famílias a preparar o soro caseiro e assim, evitar a desidratação.
Depois de voltar ao Brasil, Dom Paulo perguntou a sua irmã, Zilda Arns, se ela teria interesse em tornar esse projeto realidade. Zilda, que na época era viúva a cinco anos, aceitou planejar o trabalho e desde o início, tinha certeza de que ele deveria ser altamente replicável, barato, atraente e impulsionado pelo amor fraterno.
Dra. Zilda Arns preparando o soro caseiro.
Inspirada pelo exemplo de sua mãe e pelo trabalho como pediatra e diretora de postos de saúde, Zilda se baseou na metodologia que Jesus aplicou no episódio, narrado pelo Evangelho de João, do milagre da multiplicação de cinco pães e dois peixes, que saciaram a fome de mais de 5 mil homens e a adaptou para a realidade das comunidades, por meio de líderes (voluntários) capacitados e que com o espírito da fraternidade cristã, multiplicassem o saber nas famílias vizinhas.
Dom Geraldo Majella Agnelo, na época, arcebispo de Londrina (PR), foi indicado pela CNBB em 1983, para acompanhar o trabalho. Dom Geraldo acompanhou o trabalho da Pastoral da Criança por oito anos seguidos, ajudando a abrir caminhos e superar dificuldades.
Junto a Unicef, optou-se por iniciar o trabalho em uma única paróquia para testar a metodologia, antes de expandi-la para o Brasil.
Na época, o município com maior índice de mortalidade infantil no Paraná, era Florestópolis, pertencente à arquidiocese de Londrina, com 127 mortes por mil crianças nascidas vivas. Em setembro de 1983, Zilda Arns realizou a primeira capacitação de líderes na cidade.
Em um ano, os índices de mortalidade infantil caíram de 127 para 28 mortes por mil crianças nascidas vivas. Cada criança e gestante era acompanhada com muito amor e carinho e cada líder capacitado, multiplicava seu saber para 10 a 20 famílias.
Ao saber do sucesso da Pastoral da Criança, Dom Luciano Mendes de Almeida pediu que Zilda apresentasse a iniciativa na Assembléia Geral dos Bispos em Itaici, São Paulo, em 1984.
Muitos obstáculos e críticas surgiram no processo de expansão da Pastoral da Criança. Algumas pessoas achavam que pesar as crianças e ensinar às mães a fazer o soro caseiro era papel do governo. Mas, por meio de bispos, irmãs e amigos, Zilda Arns e Dom Geraldo conseguiram levar a metodologia para novas cidades.
Hoje, a Pastoral da Criança está presente em todos os estados brasileiros, atua em mais de 30 mil comunidades, acompanhando cerca de um milhão de crianças e 56 mil gestantes em 808 mil famílias cadastradas, e conta com o apoio de mais de 160 mil voluntários, dos quais 90 mil são líderes capacitados nas ações da Pastoral da Criança.
Além do Brasil, a organização está presente em mais 11 países da África, Ásia, América Latina e Caribe.
“Deus me plasmou e hoje sou o que na minha adolescência imaginava ser: A missionária médica para milhares de crianças e famílias pobres. Cuido da Vida em Abundância, isto é, como papai dizia: “O médico deve ter compreensão do contexto e de suas influências sobre a saúde humana”.
Dra. Zilda Arns Neumann
Fonte: A família de Gabriel Arns e Helena Steiner e seus descendentes até 2012. Otília Arns 2012. Página 50
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