O mês de junho é marcado, no Brasil, por muitas festas tradicionais “juninas”, onde também lembramos a figura de João, o Batista. É muito apropriado conectar a figura de João, o Batista, com festa, dança, alegria, extravasamento, memórias, músicas locais, comida farta e boa.

Jesus, no início de sua vida pública, fez questão de indicar para todo mundo qual sua posição naquela sociedade (e naquela religião). Estava alinhado com a tradição profética, em constante tensão com os poderes políticos e religiosos. Por isso, era do grupo de João, o Batista, profeta que veio preparar o caminho, como tantos já haviam feito antes dele. Jesus era desse grupo, grupo que com suas atitudes protestava contra o sistema da época e contra o tipo de religião que afastava o povo de Deus.

Por isso, Deus se manifesta em Jesus. Deus não pode ser afastado do povo. Deus sempre toma a primeira iniciativa nos encontros. Ele está no meio de nós. Jesus é essa revelação do Deus que caminha com o povo, sempre e incondicionalmente. Como disse Paulo, na carta aos Romanos: “nada pode nos separar do amor do Cristo”. Nada. O amor é mais forte que a morte, é uma faísca de Deus já dizia o Cântico dos Cânticos, capitulo 8.

Por isso, a figura de João, o Batista é tão importante na nossa espiritualidade. Ele é o padroeiro da vida monástica, é o indicador do caminho do Senhor, da Escola do Senhor, que todas/os nós estamos matriculados e querendo ser assíduas/os. Nosso trabalho como pastoras e pastores do Senhor é ser expressão viva e ativa do amor de Deus no meio das pessoas mais vulneráveis. É proclamar, com atos e não só com palavras, que Deus está no meio de nós e que nos ama sempre.

A conversão é o resultado desse testemunho e desse carinho para com quem precisa e não condição para que Deus perdoe ou agracie. É sempre bom lembrar que o que transforma não são palavras, mas testemunho. É nosso amor carinhoso que transforma a gente mesmo e as pessoas para quem dedicamos nossa vida. Aí está o sentido profundo da Páscoa – transformação da morte e da exclusão para a vida e para o amor, relação viva e vivificadora.

O exemplo de João arrastou muita gente com ele. Ele tinha consciência de sua vocação profética de manter viva a memória do êxodo e da imagem do Deus que está junto e que não gosta de opressão nem de corrupção. E que, de maneira nenhuma, pode ser aprisionado num templo ou em ritos vazios e excludentes.

Penso que essa conversa pode nos ajudar a avaliar nossa prática da religião. Que tipo de Deus estamos apresentando e testemunhando no nosso trabalho da Pastoral? Nossa pastoral, que é a expressão viva da presença e do cuidado de Deus, que não exclui ninguém, está sendo essa luz e esse caminho que João, o Batista, veio testemunhar e proclamar?

João foi uma vida de doação e clamor para que a religião voltasse para seu propósito inicial: religar as pessoas, devolver as conexões que foram perdidas com o tempo, relembrar o primeiro amor, o sentido pelo qual Deus criou o mundo e enviou seu filho amado, não para morrer no meu lugar, como algumas músicas que ouvimos por aí, mas para mostrar para o mundo que Deus é amor e misericórdia absoluto, que nada, nem mesmo o pecado ou a morte, tem poder de fazer Deus amar menos.

Acho que vale a pena recordar um refrão e uma estrofe de uma canção que muitos conhecem:

Essa foi tirada de Isaías 49,15: ‘A mãe será capaz de se esquecer, ou deixar de amar algum dos filhos que gerou. E se existir acaso tal mulher, Deus se lembrará de nós em seu amor’. E essa estrofe de Oséias 11, 1-9: ‘O amor de mãe é como o amor de nosso Deus. Tomou seu povo ao colo, quis nos atrair. Até a ingratidão, inflama seu amor, um Deus apaixonado busca a mim e a ti’.

Não vamos esquecer disso. Vamos continuar nosso testemunho em favor da vida!

Paulo Ueti

Assessor da Pastoral da Criança