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A pandemia ocasionada pelo novo coronavírus trouxe muitas dificuldades e inúmeros desafios para o dia a dia das pessoas. Muitas famílias, além destes problemas, se deparam com algo ainda mais triste: a morte de algum familiar.

A perda de algum membro da família é um momento bastante delicado, que gera insegurança e muita tristeza. Apesar de ser uma situação extremamente difícil, é preciso conversar e contar para as crianças o que aconteceu.

As dicas abaixo, elaboradas pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford, na Inglaterra, podem ajudar a enfrentar este momento.

PASSO 1: PREPARE-SE

  • Pensar em conversar com as crianças sobre isso provavelmente pareça a coisa mais difícil do mundo. É completamente compreensível querer protegê-los dessas notícias. 
  • Se houver outro adulto em casa com você, compartilhe as notícias com ele primeiro, para que possam conversar juntos com as crianças.

Mais algumas dicas:

  • Reserve um tempo para escutar e conversar, as vezes temos o hábito de antecipar a angústia da criança pela nossa própria e por vezes damos informações além das que ela precisa e pediu.
  • Tente manter o foco nos próximos minutos e em como deseja que as crianças ouçam as notícias da morte de seus entes queridos.
  • Sabemos que até mesmo crianças muito pequenas (menores de 2 anos) já sabem que algo está acontecendo e precisam de uma explicação para o que podem ver e ouvir ao seu redor.

PASSO 2: PREPARE A INFORMAÇÃO

  • Reserve um minuto para pensar no que cada uma das crianças sabe sobre o que está acontecendo. Qual tem sido o entendimento e a experiência deles sobre doenças e morte até agora?
  • Como todos estão se isolando em suas casas, as crianças estarão muito conscientes de quaisquer telefonemas e estarão esperando para ouvir sobre seus parentes. Isso significa que você precisará contar as novidades o mais rápido possível, para que não se preocupem com o que aconteceu.

PASSO 3: PREPARE O AMBIENTE

  • Pense em que lugar da casa deseja conversar com as crianças.
  • Dependendo da idade das crianças, decida se deseja contar com elas juntas ou se crianças muito pequenas podem se distrair com a TV ou um brinquedo/jogo enquanto conversam primeiro com os irmãos mais velhos.
  • Se as crianças tiverem um brinquedo especial ou objeto de estimação, veja se você pode entregá-lo.

PASSO 4: COMEÇANDO

  • Pedir às crianças que parem o que estão fazendo e venham sentar-se irá prepará-las para a conversa.
  • Tente falar o mais devagar possível e faça uma pausa entre as frases. As pessoas costumam falar rapidamente quando estão chateadas e nervosas.
  • Por exemplo:

    • “Você pode vir aqui e sentar ao meu lado por um minuto? Eu preciso falar com você."
    • “O médico do hospital acaba de me ligar”.

PASSO 5: EXPLIQUE O QUE ACONTECEU

  • Fale MUITO devagar e honestamente.
  • Para evitar qualquer confusão, você deve deixar bem claro que a pessoa morreu; use as palavras que sua família prefere ao falar sobre a morte.
  • Evite falar que a pessoa que morreu “foi dormir”, “faleceu”, “viajou”, “foi morar no céu” ou “foi para as estrelas”, pois as crianças pequenas ficam confusas e acham que a pessoa pode voltar. São conceitos que podem acarretar medos.
  • Depois de dizer às crianças que a pessoa morreu, PARE por alguns segundos para permitir que elas assimilem o que você disse. 
  • Espere até sentir que as crianças estão prontas para obter mais informações.
  • Esteja ciente de que a angústia deles dificulta a captação de informações
  • Alguns exemplos:

    • "[Nome] ficou cada vez pior/indisposto depois que foi ao hospital e morreu.” 

    Para crianças mais novas, pode ser necessário repetir que a pessoa morreu e não poderá mais voltar:

    • “[Nome] estava tão mal que seu corpo parou de funcionar. Seu coração parou e ele não conseguia mais respirar. [Nome] morreu” 
    • Ou “Os médicos deram [Nome] toda a ajuda que puderam, mas nada funcionou. Eles simplesmente não puderam fazê-lo melhorar, então eles morreram."

    Para uma criança mais velha: 

    • “[Nome] teve uma infecção muito ruim nos pulmões. Isso significa que ele não podiam obter oxigênio suficiente no corpo. E mesmo com todos os remédios e máquinas, os médicos também não. Sinto muito,[Nome] morreu.”

PASSO 6: LIDANDO COM AS REAÇÕES DAS CRIANÇAS À NOTÍCIA

  • Não há problema em conversar com as crianças sobre como essas notícias são perturbadoras e tristes para todos.
  • Compartilhar seus sentimentos pode ser útil, mas as crianças podem achar assustador vê-lo completamente sobrecarregado de angústia.
  • É útil se você mencionar sua emoção, por exemplo, explique que está se sentindo triste e que está chorando porque pode se sentir melhor após um bom choro.
  • As crianças mais novas podem se concentrar muito mais nos aspectos práticos de como a situação mudará sua vida cotidiana; 'quem vai jogar futebol comigo?' Eles podem não mostrar uma reação imediata às notícias (por exemplo, querer ir jogar), mas isso não significa necessariamente que eles não ouviram as notícias ou que estão apenas pensando em si mesmos.

As crianças podem ter distintas reações. Aqui estão alguns exemplos, com sugestões de como você pode responder:

  • Chorar ou possivelmente gritar. O que dizer:Eu sei que é muito, muito triste. É difícil absorver tudo isso."
  • Dizer repetidamente "Eu não acredito em você, você está errado, isso não é verdade." O que dizer: "Eu sei que isso é muito difícil para você absorver.”
  • Ficar muito quieto. O que dizer:
    • "Eu sei, é realmente difícil acreditar que isso está acontecendo?
    • "Sei que é triste e perturbador pensar nisso, mas é melhor compartilharmos nossos sentimentos e conversarmos sobre nossas preocupações, em vez de lutarmos sozinhos".

PASSO 7: SE PREPARANDO PARA AS PERGUNTAS MAIS COMUNS DAS CRIANÇAS

  • Pode ser útil pensar em como você responderá a perguntas comuns que as crianças podem fazer.
  • Você precisa pensar na idade das crianças e no que elas serão capazes de entender. Pense no que eles já sabem e entendem.
  • Pergunte se eles desejam mais informações ou tem perguntas sobre o que aconteceu. Por exemplo:“Sei que essa conversa foi muito difícil. É muita coisa para absorver; há algo que você queira perguntar ou não entenda?"

Perguntas mais comuns e dicas para respondê-las:

  •  As crianças geralmente querem saber o que causou a morte e estão preocupadas com o fato de ter sido por causa de algo que pensaram, disseram ou fizeram.É importante repetir que [Nome] teve Coronavírus, foi tratado pela equipe médica e que não foi culpa de ninguém. 
  • As crianças podem perguntar se você ou eles vão morrer, quem cuidará deles e se eles também vão pegar a doença. 
  •  Concentre-se em informações práticas. Diga a eles os passos que todos estão tomando para impedir a disseminação do Coronavírus (lavar as mãos, distanciar etc.). 
  • Lembre-os de outras pessoas especiais em sua família e em seus amigos, todos os quais os amam e cuidam.

PASSO 8: FINALIZANDO A CONVERSA

  • Tranquilize-os de que não terão que gerenciar isso sozinhos.

  • É realmente útil que as crianças tenham alguém com quem conversar fora da família. Ser capaz de compartilhar seus sentimentos sem se preocupar em incomodá-lo é importante. Você pode ajudar as crianças a pensar em quem elas amam e confiam para apoiá-las.

  • Você pode precisar voltar a esta conversa várias vezes, principalmente com crianças mais novas. Isso é muito normal, pois eles lentamente entendem o que aconteceu
  • Alguns exemplos:

    • “Eu sei que isso parece muito agora. O que sei com certeza é que te amo muito. Nós vamos resolver isso juntos, o que quer que o futuro nos reserve.”

    • “Vamos pensar em quem mais pode ser uma boa pessoa para você conversar?”

    • "Você quer pensar se gostaria que eu dissesse a seus amigos ou isso é algo que você quer fazer?"

PASSO 9: CUIDANDO DE VOCÊ

É muito importante que você cuide de si mesmo. Essas conversas são as mais difíceis que você já teve e são emocionalmente exaustivas. Entre em contato com um amigo ou parente para conversar sobre como está se sentindo. 

  • Conecte-se com outras pessoas, grupos e organizações que podem ajudar a apoiar você e sua família

Fonte: Dr Louise Dalton, Dr Elizabeth Rapa, Helena Channon-Wells, Dr Virginia Davies, Dr Carolina Coll and Prof Alan Stein. June 2020. Disponível em: www.psych.ox.ac.uk/research/covid_comms_support. 

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