Brincar de faz de conta responde a uma necessidade básica da criança: a de querer que os pais fiquem sempre junto dela. Mas as relações da criança com as pessoas e as coisas ao seu redor estão sempre mudando. Por volta dos dois anos a criança já não tem os pais sempre por perto como quando era menor e procura trazê-los para junto de si “fazendo de conta”, por exemplo, que é a mãe indo fazer compras, ou o pai capinando na roça.
A criança também começa a querer fazer muitas coisas sozinha, inclusive o que não pode e os adultos são obrigados a lhe dar limites. Para aprender a aceitar os limites, ela então faz, na brincadeira, aquilo que lhe é proibido.
Quando começa a brincar de faz de conta, a criança precisa ter os objetos de verdade ou, senão, muito parecidos com eles para que possa brincar: a boneca, o pratinho, o carro... Depois ela vai aprendendo a usar os objetos de outra maneira, não ficando só presa ao uso do objeto real. Por exemplo: a criança quer brincar de bailarina, mas não tem uma boneca. Pega, então, um sabugo de milho, coloca uma “saia” de papel nele e diz que é sua bailarina e começa a fazê-la dançar. Para isso, ela teve que usar sua imaginação.
Mais tarde a criança vai brincar de faz de conta, até mesmo sem precisar ter objetos. Ela imagina que é o pai dirigindo um caminhão e faz os gestos e os sons correspondentes a essa ação. Essa brincadeira estará ajudando a criança a desenvolver o pensamento apoiado nas ideias e nas palavras. A criança aprende a pensar sobre uma coisa,falando sobre ela. Por exemplo, ela fala sobre o carro e pode pensar muitas coisas sobre ele: sua cor, quantas rodas tem, como ele se movimenta. O pensamento apoiado nas ideias e palavras é muito importante na escola quando a criança vai aprender a ler e escrever.
Depois as crianças passam a brincar não apenas de dirigir um ônibus, mas reproduzem as relações do chofer com o trocador, com os passageiros. Ou seja, passam a importar para a criança não apenas as ações, mas também as relações entre as pessoas.
No faz de conta a criança aprende, também, a aceitar regras que a própria brincadeira lhe impõe, pois ao imitar o que os adultos fazem, a criança vai precisar ter atitudes e comportamentos que são mais adiantados que os seus. Por exemplo: observando duas crianças que brincam de mãe e filha e estão num lugar que só tem um balanço; a “filha” quis ficar no balanço e a “mãe” teve que ficar sem andar, empurrando a “filha” que não queria sair do balanço. A criança que era a “mãe” precisou ter um comportamento de adulto, reprimindo sua vontade de andar no balanço, aceitando regras que, apesar de não serem faladas abertamente como num jogo de dominó, fazem parte da brincadeira e têm que ser respeitadas.
Nessa brincadeira a criança pode vivenciar também situações de medo e angústia para conseguir conviver com esses sentimentos.
Exemplo: crianças de comunidades violentas quando fazem brincadeiras em que são policiais e bandidos.
O faz de conta é portanto uma atividade na qual a criança assume o papel do adulto, procura fazer o que ele faz e, dessa forma, lida com a ausência dos pais. Nessa brincadeira ela procura também entender o significado das atividades dos adultos, as relações que eles estabelecem com as pessoas, os valores e costumes de sua família e do lugar onde vive.
Para a criança, até por volta dos seis anos, o brincar de faz de conta é uma das atividades mais importantes para seu desenvolvimento.
Organizando a brincadeira de faz de conta
Não sendo impedidas pelo adulto, as crianças brincam de faz de conta. A atitude principal do brincador em relação a esta brincadeira é organizar um local com brinquedos como bonecas, panelinhas, pratinhos, colheres, móveis; roupas, sapatos, bolsas de adulto; carros, caminhões; animais; blocos de construção. Sendo convidado pelas crianças, o brincador participa com elas da brincadeira.
A organização de caixas com diferentes objetos e materiais também estimula e enriquece a brincadeira de faz de conta, pois eles permitem que a criança possa inventar, brincar com eles de várias maneiras; desenvolvem ainda a capacidade da criança de criar e imaginar.
- Caixa das Surpresas
Colocar numa caixa sucata de coisas bem variadas como: garrafas e potes de plástico pequenos e médios, tampas, pedaços de pau lisos e sem ponta fina, panos, carretéis de linha, caixas e muitas outras coisas que vocês consigam para que as crianças possam imaginar e criar seus brinquedos e brincadeiras.
Atenção: É preciso tomar muito cuidado com a seleção desses objetos. Eles têm que estar limpos e não serem perigosos para as crianças. Nas atividades com Brinquedos e Brincadeiras na Pastoral da Criança temos sempre crianças de idade variadas brincando juntas num mesmo espaço e assim todo cuidado é pouco. Por exemplo, objetos pontudos, de vidro, que tenham partes cortantes ou sejam muito pequenos NÃO SERVEM. É bom também ter pedaços de pano maiores, caixas grandes vazias, jornais para as crianças construírem “cabanas”.
- Caixa das vestimentas
Colocar numa caixa roupas, sapatos, chapéus, bolsas, pedaços de pano ou outras coisas que os adultos usem e não sejam perigosas para as crianças mexerem e usarem para se vestir como adultos ou se imaginarem príncipes, princesas, fadas, bruxas, super- heróis. Com eles as crianças podem criar suas histórias, brincar de faz de conta.
- Caixa da natureza
Colocar nessa caixa coisas da natureza. Cada comunidade vai descobrir o que tem de interessante no lugar. As mais encontradas são: gravetos, pedrinhas, sementes, folhas, cabaças, favas.
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