A tradição cristã é rica em conteúdos, símbolos, propósitos e atitudes. Precisamos circular bem entre tudo isso para sermos fiéis à missão que Jesus nos confia, caminhando com Ele, com a cruz do compromisso cristão, participando de sua obra de salvação que transforma a vida e liberta o mundo do mal.
As informações a seguir nos ajudam a estabelecer distinções importantes de alguns termos e práticas que fazem parte da vida cotidiana na nossa Pastoral, em vista da qualificação da vida das famílias e das comunidades.
Espiritualidade
Quando falamos de Espiritualidade, quase sempre nos vem à mente algo imaterial, fora do corpo, tudo o que ela não é. Espiritualidade tem a ver com o Espírito de Deus. É necessário, portanto, compreender a Revelação para adentrarmos neste mistério que é comunicado ao povo. Ela é graça de Deus e também é uma resposta concreta ao chamado dele para sermos uma parábola do Reino no mundo.
Espiritualidade é a forma concreta do modo como vivemos, ou seja, nosso estilo de vida. Trata-se do “estilo” e do “empenho” dos que creem e vivem o Evangelho, sempre movidos pelo Espírito. O Espírito é sempre vivificador, mas também é desorganizador, qual vento forte e fogo que arde. O Espírito é gerador de acontecimento e de realidade, por vezes, desconfortável, impulsionando-nos para lugares estranhos.
O Espírito arde e tira tudo do lugar, desinstala (cf. At 2, 1ss). Espiritualidade é deixar-se conduzir e coordenar pelo Espírito Santo.
Como a espiritualidade também é Palavra de Deus vivida no cotidiano, é importante a atitude de escutar. Isto está na base de nossa espiritualidade. É atitude fundante e estruturante de toda nossa vida no Espírito.
O Credo de Israel começa com esta palavra e atitude: “Escuta Israel...” e escutar, na tradição bíblica e espiritual, significa estar atentos e atentas para a realidade, para os acontecimentos, para o mundo e viver concretamente. Em primeiro lugar é atitude contemplativa que vai aos poucos modificando nosso jeito de olhar e as nossas teorias sobre o que observamos e experimentamos. Portanto, modifica nosso jeito de viver.
A espiritualidade é a forma concreta de viver o Evangelho. Está vinculada ao seguimento de Jesus como “lugar” próprio da experiência de Deus como Misericórdia. A espiritualidade cristã possui sabor e experiência trinitária: surge do fato de seguir as pegadas de Jesus, movidos pelo Espírito, caminhando assim como filhos e filhas do Pai e, na atitude cotidiana, com a esperança de um encontro definitivo com Ele.
Mística
A palavra mística vem de “mistério”. Mistério é diferente de segredo. Mistério faz parte da tradição e da espiritualidade de muitas religiões. É o jeito de viver no mundo. A mística é algo que move a pessoa a fazer o que ela faz. A mística se expressa na espiritualidade, que é um jeito de viver no mundo.
Essa palavra, mística, surgiu no ambiente das antigas religiões. No cristianismo a palavra tomou um significado próprio. Para as comunidades cristãs a palavra mística passou a significar o processo pelo qual, através de Jesus Cristo, se entra na intimidade de Deus. Mística é a motivação da vida que busca maior intimidade com Deus. É o segredo e mistério que faz com que as pessoas vivam verdadeira e forte experiência de relação e intimidade com Deus, mesmo dentre adversidades, sombras e sofrimento. É a mística que dá sentido à resiliência humana (capacidade de lidar com os problemas e superar obstáculos) e da natureza.
Mística é o conteúdo e é expressa privilegiadamente pelo Mistério de Cristo, celebrado na sagrada Liturgia. Por isso a liturgia é fundamental para a vida cristã, sobretudo uma liturgia frutuosa, bem feita, participativa.
Liturgia
Liturgia é a ação simbólica e ritual. Expressão comunitária da nossa fé cristã... Por essa razão ela é considerada o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte de onde emana toda sua força (Sacrossanctum Concilium).
É a fonte da qual decorre, como um rio, a vida da Igreja e de cada cristão, porque é na liturgia que o Ressuscitado vem ao encontro de sua comunidade de fé, nos atinge, nos transforma com seu Espírito, nos faz participar de sua vida de comunhão com o Pai, e nos envia de volta ao mundo, renovados e santificados.
O Concílio Vaticano II, na sua primeira constituição dogmática, “Sacrosanctum Concilium” (SC), trata da reforma litúrgica, sublinhando no nº 10 que: “a Liturgia é, simultaneamente, a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde vem toda a sua força”.
Toda liturgia é continuidade da celebração da Páscoa do Senhor e da nossa Páscoa, dentro da Páscoa de Jesus. Isso inclui toda a Revelação, toda a vida, todo o ministério, sofrimento, morte e ressurreição de Jesus. A Liturgia, como espaço físico do encontro e lugar espiritual da intimidade com Deus, transforma a minha vida e a do mundo, em sintonia com a transformação na vida de Jesus, operada pelo Pai. Por isso, é sempre sinal do Reino, anúncio da misericórdia de Deus, testemunha de que “outro mundo é possível”.
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