O que são as estereotipias?

O que são as estereotipias, presentes nos critérios de diagnóstico do TEA?

Uma imagem muito associada ao autismo é de um indivíduo que se balança para frente e para trás sem nenhum motivo aparente. Mas o que pode parecer sem sentido para as pessoas que não são autistas, é na verdade um comportamento que faz parte da vida no espectro autista, chamado de “estereotipia”.

Este é o termo médico para ações repetitivas ou ritualísticas vindas do movimento, da postura ou da fala. As estereotipias costumam acontecer em situações em que o autista se sente bombardeado por estímulos, e as ações repetitivas ajudam a pessoa a se reorganizar internamente e processar tudo o que está sentindo. 

Há relatos de pacientes com TEA que entendem a estereotipia como algo prazeroso, que ajuda a acalmar, a concentrar e a aliviar a ansiedade. Mesmo podendo ser algo benéfico para os autistas, as estereotipias ainda causam muito estranhamento e dificultam o convívio social. Crianças e adolescentes com TEA costumam ser alvo de piadas e até sofrer bullying por causa destes movimentos. E, exatamente por destoarem do comportamento da maioria, é muito comum que as estereotipias sejam o traço que chama a atenção dos pais e o que faz as famílias buscarem médicos ou psicólogos a procura de um diagnóstico. É importante ressaltar que estes movimentos estereotipados não são característicos apenas das pessoas com autismo. Eles podem se manifestar também em indivíduos com outros distúrbios, como transtorno obsessivo compulsivo e síndrome de Tourette, entre outros. 

Os movimentos repetitivos mais comuns de se observar no espectro autista envolvem: 

  • Balançar o corpo para frente e para trás 
  • Balançar as mãos (parecido como o bater de asas de um pássaro, um abanar as mãos na altura dos ombros) 
  • Bater os pés no chão ou em algum objeto próximo 
  • Girar objetos ou girar em volta do próprio corpo 
  • Cruzar e descruzar as pernas muitas vezes 
  • Fazer sons repetitivos ou repetir sílabas sem parar 
  • Estalar os dedos 
  • Roer unhas sem conseguir parar 
  • Pular no sofá sem controle de tempo ou força 
  • Pular na frente da TV enquanto assiste 
  • Correr, indo e vindo, sem um destino claro 
  • Andar nas pontas dos pés 
  • Movimentar os dedos na frente dos olhos 

Até mesmo crianças, jovens e adultos que não são autistas podem apresentar tais ações repetitivas. A única diferença é que costumam ter um maior controle destes comportamentos.

Se por um lado todos devem se esforçar para acolher as particularidades do autismo, especialistas também ressaltam que é importante observar as situações que despertam as estereotipias. Um dos problemas gerados pela alta frequência dos movimentos repetitivos é que, enquanto a pessoa com TEA está focada nestas ações, ela está respondendo apenas aos seus estímulos internos e deixa de interagir com o ambiente. Dessa forma, a estereotipia em excesso pode fazer o autista perder oportunidades de aprendizagem e contato social. 

Para lidar com isso, o tratamento para TEA busca entender os gatilhos e modificar o significado das estereotipias. São diversas as estratégias que podem ser utilizadas pela equipe multidisciplinar, como a terapia com psicólogos, métodos de estimulação de linguagem com fonoaudiólogos e a atenuação de condições associadas com o uso de medicação, como transtorno de ansiedade e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. O objetivo das intervenções não deve ser de cessar completamente com os movimentos repetitivos, mas sim de transformar os atos estereotipados em ações com uma finalidade ou função social.

Assim, esses métodos em conjunto auxiliam a pessoa com autismo a formar novas maneiras de se relacionar com o espaço e com as pessoas que a cercam. É importante chamar a atenção de que estas intervenções são realizadas por etapas e sem pressa para que o paciente se sinta confortável e não se assuste com as mudanças. Uma intervenção súbita pode gerar um resultado contrário, criando uma sensação de aversão na pessoa com TEA e o aumento dos atos repetitivos.

Diferença não é deficiência e é por isso que a Pastoral da Criança usa a expressão “criança com diferença no funcionamento de seu organismo” e acima de tudo, lembra de que são crianças como todas as outras, e que também precisam estar incluídas em todas as atividades que a família faz e que as outras crianças fazem.

Independentemente do nível de autismo, a criança precisa ser tratada com carinho, atenção e respeito e de receber a oportunidade e o direito de participar das atividades do ambiente familiar e comunitário.

Nas Celebrações da Vida e demais encontros na comunidade, é fundamental que ela frequente e participe, tenha vivência social, oportunidade de brincar e interagir com outras crianças, jovens, adultos e idosos.

Isolar a criança e super protegê-la prejudica o seu desenvolvimento. Nesse contexto, é preciso respeitar as características e peculiaridades das crianças autistas e conhecer seus gostos, como por exemplo, do que elas gostam de brincar e fazer. Assim será possível elaborar estratégias específicas que irão auxiliar no seu desenvolvimento, visando sua inclusão.

As crianças que têm diferença no organismo necessitam de um maior cuidado, de um melhor entendimento e de amor, porque esse processo da inclusão acontece à medida que nós amamos, que nós respeitamos, que entendemos que a diferença existe e deve ser respeitada. Essa criança tem o direito e deve ser acolhida na sociedade.

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