Como seria descobrir o TEA apenas na fase adulta e como procurar diagnóstico e tratamento?
Sintomas do TEA e fluxograma do SUS.
Saiba mais sobre os sintomas do TEA e o fluxograma do SUS O número de diagnósticos de TEA tem crescido nos últimos anos, e grande parte da conversa se concentra nas crianças. Esse foco é compreensível: quanto antes o distúrbio for confirmado, melhor tende a ser o impacto do tratamento na qualidade de vida do indivíduo. E com mais gente falando sobre autismo e mais informações sendo trocadas, um número cada vez maior de adultos têm se descoberto dentro do espectro. Mas, enquanto a rede de apoio para crianças autistas segue crescendo – com o avanço das pesquisas e tratamentos com ênfase na idade infantil e o surgimento de mais instituições de atendimento, sejam públicas ou privadas – infelizmente, o cenário para os adultos e idosos com TEA ainda deixa muito a desejar.
Atualmente, são raros os estudos sobre a saúde mental e física de pacientes autistas mais velhos e ainda pouco se sabe como fatores comuns da velhice impactam os sintomas do TEA. No lado do paciente, são comuns os relatos de dificuldades no acesso aos serviços de diagnóstico e acompanhamento, tanto do âmbito público quanto na rede privada. E não são apenas os indivíduos com TEA que sofrem com os serviços escassos. Já há estudos indicando que as necessidades não atendidas de adultos autistas, seja no tratamento do distúrbio em si ou de outras condições associadas, aumentam a sobrecarga mental também dos cuidadores, que ficam mais propensos a adoecer. Por isso, a crescente demanda por acompanhamento clínico para pessoas com TEA foi identificada pela ONU e pela Organização Mundial da Saúde como uma questão de saúde pública.
A melhor maneira de ajudar a pessoa com autismo e todos que a cercam é garantindo acesso a um diagnóstico correto. Sabe-se que não há exames laboratoriais que identifiquem o transtorno e que o diagnóstico é clínico, ou seja, o TEA é definido a partir de uma análise do comportamento do indivíduo. Dessa forma, mesmo na idade adulta, o diagnóstico irá se basear no modo de agir da pessoa.
Alguns dos indícios que apontam para o diagnóstico de TEA, principalmente na fase adulta, são:
- Dificuldade durante a vida toda de interagir com outras pessoas e manter relacionamentos
- Dificuldade de olhar nos olhos
- Dificuldade de entender figuras de linguagem
- Presença de gestos repetitivos ou expressões verbais atípicas
- Apego a rotinas e/ou padrões ritualizados de comportamento
- Recordações do desenvolvimento infantil, como a de que houve um atraso no início da linguagem
No Reino Unido, o Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (NICE) recomenda que os adultos com suspeita de TEA passem por uma avaliação multidisciplinar, com profissionais treinados, que trace um quadro bem abrangente da saúde física e mental. Além de identificar o diagnóstico clínico, a avaliação deve incluir também as principais dificuldades da pessoa, o histórico médico e familiar e uma análise do comportamento, da educação, das perspectivas de emprego e dos riscos para o indivíduo.
O NICE propõe ainda o uso de ferramentas de avaliação, como a Entrevista de Diagnóstico para Autismo Revisada (ADI-R) ou a Programação de Observação Diagnóstica para Autismo (ADOS). Estes testes são similares ao M-CHAT, que é indicado apenas para a avaliação de crianças.
No Brasil, o procedimento padrão para o TEA na idade adulta primariamente é a avaliação por um psiquiatra ou neurologista, que encaminhará o paciente para outros profissionais avaliarem, como psicólogos.
Para quem não tem plano de saúde, o diagnóstico pode ser realizado pelo SUS. As Unidades Básicas de Saúde (UBS), também chamadas de “postos de saúde”, costumam ser a porta de entrada de atendimento. Nem toda região municipal tem uma equipe completa de saúde mental, e a UBS tem o papel de encaminhar o caso para outros centros, como os NASFS (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) e os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).
Pessoas com autismo leve podem fazer o tratamento na UBS, com equipes de Estratégia de Saúde da Família (médicos de família, enfermeiros, dentistas, etc), e apoio do NASF. Mas a referência em cuidado para o TEA é mesmo o CAPS, por ser composto por equipes multidisciplinares capazes de cuidar de autistas de todas as idades. A estrutura dos centros oferece desde atendimentos (individuais ou em grupo) e o tratamento medicamentoso, até atenção domiciliar, atenção para familiares e atividades comunitárias e de reabilitação psicossocial.
Quando necessário, o CAPS pode também acionar outros pontos da rede de saúde, como serviços universitários ou referências específicas para atendimento ao TEA. Isto costuma ocorrer em casos mais complexos para auxiliar no diagnóstico ou no acompanhamento mais aprofundado, com avaliações das condições associadas. No geral, o tratamento de autismo na idade adulta também se baseia no acompanhamento médico e multidisciplinar, composto, por exemplo, por psicólogo, psiquiatra, terapeuta ocupacional e educador físico. Ao contrário das crianças, que precisam desenvolver habilidades básicas, a terapia nos adultos vai trabalhar a autonomia, dentro das limitações de cada um, para ajudar na inserção na comunidade e no mercado de trabalho. Então, em vez de aprender a usar talheres, a pessoa vai trabalhar questões como organizar a sua casa, buscar atendimento médico ou procurar um emprego, por exemplo. Mas há ainda muito o que avançar no acompanhamento de um adulto autista, em especial no caso dos idosos.
Não se pode esquecer que, à medida que uma pessoa com TEA envelhece, todo o seu entorno também envelhecerá. Assim, a morte dos pais, de um parceiro ou um irmão causa um impacto negativo na saúde mental e na capacidade de viver de forma independente, seja por conta do apoio humano ou financeiro. Além disso, existem as doenças comuns de aparecer na idade avançada, como pressão alta, diabetes, artrose e demência. Assim, todos esses fatores devem ser considerados ao se elaborar o tratamento e acompanhamento de um adulto com TEA.
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