Saiba mais sobre os marcos do desenvolvimento infantil
Antes de ter em mente quais são as primeiras alterações que podem repercutir no desenvolvimento de uma criança por conta do Transtorno do Espectro Autista (TEA), vamos entender o que seria um desenvolvimento típico. Esse conceito de desenvolvimento é amplo e se relaciona a vários aspectos da evolução humana abrangendo crescimento em altura, maturação física e psicológica, aprendizagem, aspectos sociais, entre outros, sendo que todas as transformações acontecem de uma forma dinâmica, complexa e contínua. Além disso, assim como o autismo em si, o desenvolvimento também é influenciado por carga genética e por fatores ambientais, como os estímulos fornecidos.
Cada fase do desenvolvimento segue uma sequência e há uma idade esperada para cada uma delas. O acompanhamento do desenvolvimento típico é feito pelo pediatra nas consultas de rotina. O Ministério da Saúde recomenda que elas devem acontecer 7 vezes até a criança completar o primeiro ano de vida (1ª semana - 1º mês - 2º mês - 4º mês - 6º mês - 9º mês - 12º mês), 2 vezes de um a dois anos (18º mês - 24º mês) e no mínimo anualmente após o segundo ano. Ao detectar uma alteração no desenvolvimento, o pediatra pode acompanhar ou encaminhar para o especialista da área, dependendo da perspectiva de resolução ou das medidas cabíveis.
Para o recém-nascido, é normal que ele seja “molinho”. Ou seja, ao nascer, a criança ainda não tem um tônus muscular suficiente para sustentar seu corpo simetricamente. Ademais, o recém-nascido tem uma postura de flexionar braços e pernas, além de deixar a mão fechada. Com o tempo, essa postura é invertida, deixando os membros esticados.
Depois dos seis meses de vida, não há mais o padrão específico de dobrar ou esticar e a criança tem controle sobre esses movimentos, começando a aprender até rolar e sentar. Além disso, a criança também começa a ter controle sobre o que ela pega com a mão, adquirindo o chamado movimento de pinça. Relacionando esses estágios ao autismo, é importante ficar atento ao tempo de desenvolvimento motor, pois a criança autista pode ter esse desenvolvimento muito atrasado.
Há, também, um desenvolvimento associado com visão e audição. O recém-nascido é capaz apenas de focalizar um objeto próximo de seus olhos e tem preferência por rostos de pessoas. Por isso, em consultas com bebês pequenos, é perguntado se ele foca a visão em objetos próximos e os segue com o olhar. Além disso, a sociabilidade do bebê também vem aliada ao olhar nesse estágio, além de estar ligada ao sorriso também como formas de comunicação.
A partir da quarta até a sexta semana de vida, o bebê começa a apresentar o “sorriso social”, um aparente sorriso que é desencadeado por estímulos, como a face humana. Já a partir do sexto mês, o bebê consegue distinguir pessoas familiares e desconhecidas, passando a sorrir apenas para os conhecidos. Com relação ao TEA, já se pode notar alguns sinais aqui, quando o bebê tem dificuldades de seguir com o olhar ou parece não distinguir muito as pessoas que o rodeiam.
Com relação à audição, o bebê começa a ouvir desde o quinto mês de gestação, ou seja, ao nascer ele já teria que escutar. Então, é perguntado nas consultas se o bebê se assusta, se acorda ou chora com sons altos e súbitos, se procura a origem dos sons e se fica mais calmo quando ouve a voz da mãe.
No Brasil, há a triagem obrigatória ao nascer chamada de “teste da orelhinha” para detectar possíveis problemas auditivos. Correlacionando com o TEA, é importante saber que o bebê não tem problema auditivo, mas mesmo assim não procura a origem dos sons ou parece alheio a eles, pois pode ser um dos sinais de autismo.
Já a linguagem, nos primeiros dias de vida é expressa unicamente pela mímica facial e pelo choro. Entre o segundo e o terceiro mês, começa a emissão de alguns sons indistinguíveis e, próximo do sexto mês, sons bilabiais, como “baba”. Entre o nono e décimo mês, surgem alguns balbucios semelhantes à linguagem do seu meio. Depois do sexto mês, surge também a linguagem gestual, como apontar para objetos ou pessoas ou bater palmas e acenar. Com um ano já surgem as primeiras palavras e, até os dois anos, se iniciam frases simples ou junção de palavras. Aqui é importante prestar atenção aos marcos de emissão de sons e palavras. Para qualquer pessoa que não fala esses marcos não ocorreram. Mas mesmo para as que falarão, esses marcos podem atrasar. Além disso, é comum que crianças com TEA não comecem a apontar objetos da mesma forma que crianças que não têm autismo, e que não interajam com outras pessoas também.
Alguns marcos do desenvolvimento resumidos são:
- 1 mês: melhor percepção de um rosto humano.
- 2 meses: sorriso social, ampliação do campo visual, segue objetos com o olhar, reage a estímulos sonoros, fica de bruços levantando cabeça, abre a mão, emite algum som.
- 4 meses: agarra objetos com a mão voluntariamente, busca estímulos sonoros, senta com apoio.
- 6 meses: vira o rosto em direção a estímulos sonoros, tenta buscar um brinquedo com a mão, rola no leito.
- 6-9 meses: senta sem apoio, engatinha, apresenta reações a pessoas estranhas.
- 9 meses: transmite objetos de uma mão para outra, balbucia, estranha pessoas fora do seu convívio, brinca de “esconde achou”, pinça polegar-dedo rudimentar
- 12 meses: começa a andar, bate palmas, acena, combina sílabas, faz pinça completa, segura a mamadeira.
- 18 meses: fala palavras, anda, rabisca, obedece a ordens, nomeia objetos, usa talher, constrói torre com 3 cubos.
- 2-3 anos: diz próprio nome, reconhece-se no espelho, brinca de faz de conta, sobe escadas, corre, fórmula frases simples, retira peça de roupa, brinca com bola, brinca com outras crianças.
Na Pastoral da Criança durante as visitas domiciliares usamos os indicadores de desenvolvimento infantil, chamados de Indicadores de Oportunidades e Conquistas (IOCs) que servem como base para orientação de quais estímulos são importantes em cada fase, para que a famílias ofereçam aos bebês e crianças para que tenham um ambiente favorável para o desenvolvimento, fazendo suas conquistas, ou seja, alcançando os indicadores. Cada criança tem seu jeito e seu tempo de se desenvolver, mas infelizmente nem todas as crianças são estimuladas corretamente ou com a frequência necessária. Quando o bebê ou a criança apresentar algumas dificuldades nesses indicadores presentes no aplicativo Pastoral da Criança + Gestante ou nos marcos de desenvolvimento presentes na caderneta da criança, é importante estar atento e se certificar de que esteja sendo oferecido esses estímulos, uma vez que na ausência destes, pode-se apresentar certa demora em alcançar o desenvolvimento esperado para a idade. Por exemplo, para o bebê retribuir o sorriso, olhar nos olhos, virar a cabeça à procura do barulho ou quando é chamado pelo nome, esses comportamentos devem ser aprendidos, isto é, ele precisa receber estímulos de seus pais e de quem vive com ele. Pegar no colo mesmo quando não está chorando, chamar pelo nome, olhar nos olhos do bebê durante a amamentação, conversar, brincar junto, sorrir para ele, entre outros conforme cresce, são importantes para que ele aprenda e se desenvolva. Porém, quando em seu desenvolvimento há interação com a família, estímulos e oportunidades de forma adequada e nota-se dificuldades consideráveis, é importante buscar um olhar especializado para observar se há sinais e sintomas que podem indicar diferença no funcionamento do seu organismo e receber as orientações necessárias. Em todas as fases de desenvolvimento, durante as consultas de rotina converse sempre com o profissional de saúde sobre o crescimento e desenvolvimento do seu bebê ou criança. |
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