Parto normal: a melhor opção

Atualmente, mais da metade dos bebês brasileiros nascem por meio da cirurgia cesárea ((55,6% dos partos com nascidos vivos, segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos/Sinasc, de 2016 ). Na rede particular, esse índice chega a mais de 80%. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa recomendada seria entre 10% e 15% dos partos.

 


A Lei nº 13.257 (Marco Legal da Primeira Infância), aprovada no dia 8 de março de 2016, ressaltou em seu Art 8º: “A gestante tem direito a acompanhamento saudável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos”.

O risco de uma mulher morrer em consequência ou durante o parto cesariana é quase quatro vezes maior que no caso de parto normal. Campeão mundial em cesáreas, o Brasil poderia reduzir os altos índices de mortalidade materna apenas adotando medidas que dispensam ou requerem o mínimo de intervenção cirúrgica para se dar à luz. Em países desenvolvidos, privilegiam-se os procedimentos normais, comprovadamente mais eficientes e menos perigosos tanto para a mãe quanto para o filho.

Segundo Dr. Nelson Arns Neumann, Coordenador Internacional da Pastoral da Criança e Doutor em Saúde Pública, "já há consenso na literatura médica que é necessário iniciar o trabalho de parto para indicar uma cesariana. Por exemplo: o nenê está em posição transversa e assim é impossível o parto vaginal. Neste caso, espera-se o sinal que de criança está madura (= trabalho de parto) e então se faria a cesariana. Crianças de mães pobres ou com mais idade, dada a pior condição geral e uterina, podem estar maduras com 37 semanas de gestação. Crianças de mães mais jovens e saudáveis podem estar tão bem no útero que só amadurecem perto das 42 semanas. Só o trabalho de parto indicaria quando o amadurecimento ocorreria pelas condições já citadas, pela posição da placenta e muitas outras condições fisiológicas que ainda não conseguimos entender. Além do início do trabalho de parto, já há equipes que recomendam a cesariana eletiva apenas depois que a mulher esteja com 6 cm de dilatação pois as mudanças hormonais neste período seriam de grande importância para a criança.  Enfim, indicar cesariana antes do início do trabalho de parto, sem doença associada, dada a literatura médica existente, está muito próxima de ser considerada erro médico pelas graves repercussões para mãe e, principalmente, para a criança".

A revista Lancet, uma das mais conceituadas do mundo na área médica, na Right Care Series, afirma que a prevalência de mortalidade materna e morbidade materna é maior após  cesariana do que após o parto vaginal. A  cesariana está associada a um aumento do risco de ruptura uterina, placentação anormal, gravidez ectópica, natimortalidade e parto prematuro, e esses riscos aumentam com o número de cesariana (efeito dose-resposta). Há evidências emergentes de que bebês nascidos por cesariana  têm diferentes exposições hormonais, físicas, bacterianas e médicas, e que essas exposições podem alterar sutilmente a fisiologia neonatal. 

Os riscos a curto prazo da  cesariana incluem desenvolvimento imunológico alterado, aumento da probabilidade de alergia, atopia e asma e redução da diversidade do microbioma intestinal. A persistência desses riscos até o final da vida é menos bem investigada, embora uma associação entre o uso de cesariana e maior incidência de obesidade infantil tardia e asma seja freqüentemente relatada.

A publicação da BMJ Open, conclui que o Brasil enfrenta três epidemias inter-relacionadas: uma epidemia de  cesariana; uma epidemia de nascidos em "termo precoce" (de 37–38 semanas), associada às altas taxas de cesariana; e uma epidemia de nascimentos prematuros (<37 semanas), também associada à cesariana, mas principalmente ligada a fatores de risco relacionados à pobreza.  As altas taxas de nascimentos prematuros e "termos precoce" produzem um excesso de recém-nascidos com maior risco de morbidade e mortalidade a curto prazo, bem como problemas de desenvolvimento a longo prazo. Em comparação com os países de renda alta, há um excesso anual de 354 mil nascimentos prematuros e nascimentos precoces no Brasil.

Para Dr. Nelson, "O problema é que cada criança amadurece no útero de maneira diferente. Ainda que estatisticamente 95% das crianças nasçam entre 38 e 42 semanas e a maior parte delas até as 40 semanas, é normal nascer depois disto. Tenho duas filhas que nasceram com 41,5 semanas. Se elas fossem forçadas a nascer com 39 semanas, certamente necessitariam de UTI pois não estavam maduras para nascer. Dados do Ministério da Saúde apontam que criança retirada do útero 2 semanas antes do seu tempo de nascer tem 120 mais chance de problemas respiratórios agudos. Por isso, ainda que o SUS amplie cada vez mais o número de UTIs neonatais, cada vez mais crianças com bom peso necessitam delas por terem sido retiradas antes do tempo".

Quando se fala no alto números de cesarianas, a preocupação acontece não somente com a possibilidade do bebê nascer antes do tempo correto e o que isso acarreta em sua vida, mas também com os riscos que a mãe enfrenta ao passar pela cirurgia. Hemorragia, morte em decorrência da anestesia e infecção são alguns dos problemas que as mulheres são expostas quando recorrem a uma cesariana. As complicações pós-parto, como a dificuldade de amamentar, aumentada pela demora no leite em descer, não acabam aí. Endometriose, má cicatrização e quelóide são algumas das dificuldades que podem surgir após o parto. Dr. Nelson ressalta que, além de causar diversos problemas para a mãe e o bebê, a cesariana não evita a dor, como muitas pessoas podem pensar: "analgesia para o parto vaginal é exatamente a mesma que a da cesariana. A dor, na cesariana, vem depois: a mãe tem mais dificuldade em amamentar (pois o apoio natural do bebê sobre a barriga da mãe coincide com os pontos da cesariana) e mesmo de cuidar da criança (dar banho, trocá-la), por dias após o parto".

Como pode ser visto, há provas cientificamente rigorosas que a cesariana deve ser evitada em prol da saúde da mãe mas, principalmente, para não prejudicar suas crianças para o resto de suas vidas.

Saiba mais nos artigos citados:

Caesarean sections and the prevalence of preterm and early-term births in Brazil: secondary analyses of national birth registration

 

Short-term and long-term effects of caesarean section on the health of women and children

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