O impacto do excesso de telas no desenvolvimento das crianças

O Pontifício Conselho para as Comunicações, ao refletir sobre a Internet, afirma que, “por amor dos filhos, assim como por amor de si mesmos, os pais devem adquirir e praticar a capacidade de discernir os espectadores, ouvintes e leitores, agindo como modelos de um uso prudente dos meios de comunicação em casa.” (Igreja e Internet, 11)

 

O uso indiscriminado de telas tem se tornado um grande problema de saúde pública para a população geral, e tem afetado tanto o desenvolvimento cognitivo quanto o bem-estar emocional das crianças também. A exposição prolongada a dispositivos eletrônicos pode atrasar o desenvolvimento da linguagem, prejudicar a concentração e reduzir as habilidades sociais, uma vez que limita interações reais e experiências sensoriais essenciais para o aprendizado. Além disso, o uso excessivo de telas está associado a problemas físicos, como sedentarismo, obesidade, distúrbios do sono e até dificuldades posturais. No aspecto emocional, o consumo excessivo de conteúdos digitais pode aumentar os níveis de ansiedade, estresse e até depressão, impactando diretamente a qualidade de vida infantil. Por isso, especialistas recomendam um uso moderado e sempre supervisionado, priorizando atividades que estimulem a criatividade, o raciocínio e as interações sociais, fundamentais para um desenvolvimento saudável.

Dessa forma, é importante que o líder conheça as tabelas com as recomendações dos especialistas sobre o tempo de tela mais seguro para crianças a fim de que possam orientar as famílias da forma correta e com segurança (veja tabela no tópico "O perigo das telas desde a gestação" desta etapa)

Estudo feito por pesquisadores da faculdade de medicina de Yale, nos Estados Unidos (2012) em ratas grávidas expostas à radiação de celulares, observou aumento de ansiedade e prejuízo no desenvolvimento cerebral dos filhotes, além do efeito nocivo dessa exposição à memória desses animais quando adultos. (Revista Scientific Reports, 2012: “Fetal radiofrequency radiation exposure from 800-1900 mhz rated cellular affects neurodevelopment and Behavior in Mice”).

Os autores destacam que embora a extrapolação desses resultados para humanos seja limitada, o aumento no uso de telefones celulares, que podem ser utilizados até 24 horas por dia, expõe os usuários a níveis crescentes de radiação de radiofrequência, então os efeitos são diretamente proporcionais ao tempo de uso, sugerindo que limites de segurança, especialmente para mulheres grávidas, podem ser estabelecidos.

Outra pesquisa conduzida pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona indicou que gestantes que utilizam o celular com frequência média-alta podem ter filhos que desenvolvam problemas de conduta, como hiperatividade e falta de atenção. O estudo analisou cerca de 84 mil mães e seus filhos em diversos países, incluindo Espanha, Dinamarca e Coreia do sul (pesquisa liderada por Laura Birks, por um grupo de pesquisadores do IS global de Barcelona, publicado em abril de 2017).

Ainda faltam estudos conclusivos sobre o tema, mas diante da possibilidade de riscos, os especialistas concordam até o momento que prevenir é melhor que remediar, portanto recomendar cautela na exposição da gestante ao uso de celulares não deixa de ser uma boa prática.

Esse assunto se tornou uma questão de saúde mundial e vários países já implementaram leis que restringem ou até proíbem o uso de telas, entre eles Taiwan, China, Inglaterra e Austrália. E a título de reflexão, nos Estados Unidos, inúmeros grandes empresários do ramo da tecnologia como Steve Jobs (o falecido criador e ex- diretor da Apple), Bill Gates (criador da Microsoft), entre outros, eram bastante preocupados em proteger sua prole das ferramentas digitais que eles mesmos produziram: seus filhos estudaram em caros colégios analógicos sem acesso a tecnologias e não tinham autorização para terem smartphones até aproximadamente 15 anos. Além disso suas babás eram obrigadas a deixarem seus celulares nas portarias dos seus condomínios. No mínimo curioso, não?! (leia reportagem completa em El País, “Os gurus digitais criam os filhos sem telas”, 12/04/19)

Países como a França, já recomendam maior restrição no tempo de uso, com base nas observações do neurocientista especialista em neurociência cognitiva e diretor do instituto de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa e Saúde Médica da França, Michel Desmurget. Segundo suas observações, 30 minutos de tela já são suficientes para causar prejuízos ao cérebro e numa de suas comparações estatísticas ( descritas no livro “Fábrica de cretinos digitais”) ele observa que se uma criança de 2 anos ficar 50 minutos por dia na TV por exemplo, ao longo de 2 anos ela terá deixado de aprender 800.000 palavras, o que certamente lhe privará de alcançar seu máximo potencial no desenvolvimento da linguagem.

Segundo suas recomendações, crianças não deveriam ter acesso a nenhum tipo de tela (incluindo a TV) até os 6 anos e dos 6 aos 18 anos somente 1 hora por dia desde que com finalidades escolares ou de pesquisas que agreguem conhecimento. E a justificativa para isso é que essa “proteção” preveniria problemas relacionados ao atraso de linguagem, facilitando o processo de alfabetização, já que a primeira infância é o período de “janela de oportunidades”, ou seja, de maior desenvolvimento do cérebro.

 

Para saber mais, leia a matéria e os artigos abaixo:

Os gurus digitais criam os filhos sem telas

Fetal Radiofrequency Radiation Exposure From 800-1900 Mhz-Rated Cellular Telephones Affects Neurodevelopment and Behavior in Mice

Maternal cell phone use during pregnancy and child behavioral problems in five birth cohorts

 

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